sábado, 27 de novembro de 2010

Me chama de seu












Num dia qualquer, me sentia perdido
Introspectivo
Avistei de longe um sorriso
Só conhecia aquele face sisuda
Conhecia o olhar que sempre me ignorava
Por ele eu despertara
Forte atração, magnetismo
Num lance de sorte
Um impulso
Ousei dizer que ela era insuportável em demasia
Nas minhas palavras:
Chata pra caralho
Quem diria,
eram aquelas as palavras mágicas
que mudariam pra sempre
a minha vida
Concedeu a mim
um olhar certeiro
um sorriso
fiquei surpreso, quase emocionado
pensei no momento histórico
me fiz de importante
com um ar de superioridade
e pouco afetado
Estava incrédulo na verdade
Pensei no momento que se aproximava
que realmente era possível
não sabia como proceder
que diabos falaria
não podia errar
Apostaria todas as fichas
Dispersei
Fui tão eu
que fui mais plebeu
do que estava acostumado
um cara desleixado, barba largada
suburbano
comendo salada num restaurante judeu
Vê se pode
Ela ficou intrigada
Coisas do Recife
Em alguns instantes estava postada na minha frente
linda, solícita e curiosa
Era minha glória
E o que fazer
Ouvi a sua voz
O timbre mais perfeito
Música
Chegou meu prato
e mais nenhuma garfada
Desabrigados da noite comeram rúcula
Tava liso
Mas devia continuar
Ela falava
Eu tergiversava
Me chamou pra outro lugar
Uma coca e voltar a pé
O táxi foi de graça
Já tinha decidido que devíamos casar
toquei o tecido
elogiei o vestido
até minha mão escorregar
senti a pele
estava cercado de inimigos
Não podia vacilar
queria fugir pro nosso lar
Deu a hora
Pagou-se a conta
2 reais resolveu
fomos embora
uma carona
éramos vizinhos
a madrugada caía
o sol queria raiar
mas teve tempo de esperar
o primeiro beijo
que mudou pra sempre a vida dela
A primeira vez que a vi
foi no Coque
ela nunca tinha me visto
de lá pra cá nunca mais parei de olhar
de amar
e ainda não acredito que essa mulher
me chama de meu
E espalha por aí que eu
sou o
seu marido

Foto: Juliana Lombardi
www.flickr.com/photos/julianalombardi/