sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O dia que conheci Lula, um dia que mudou a minha vida

1989, eu tinha 7 anos e morava em Recife. Minha mãe e minhas tias estavam empolgadíssimas com um cara, um líder, faziam parte de uma tal de militância. Não sei porque, mas eu tinha um grande simpatia por um outra pessoa que se chamava Brizola. 
Num certo dia daquele ano, haveria um comício do tal cara, eu não sabia o que era comício, claro. Queria ficar em casa, mas não podia ficar sozinho tendo aquela idade. Acompanhei os adultos a contra gosto, com raiva, no meio do caminho achei um panfleto de Brizola e segurei firme. No fim do percurso chegamos a um pátio que tinha uma igreja antiga, o chão era de pedras portuguesas, com prédios comerciais bem altos do lado direito, seguindo com um calçadão cheio de barracas de ambulantes do lado esquerdo e do outro lado uma avenida onde circulavam ônibus e pessoas em várias direções. Eu estava no Pátio do Carmo no Centro do Recife.
Reconhei as músicas que as pessoas cantavam, uma delas dizia "Sem medo de ser feliz", não compreendia bem a frase, mas a melodia me envolvia. Gritos que diziam: Partido, é dos trabalhadores ou trabalhadores no poder. Estava ficando identificado, a vida lá em casa era de luta, essa causa fazia sentido. E era tanta gente legal de vermelho, com bandeiras enormes, balancei uma delas no momento que joguei fora o panfleto de Brizola. As mulheres com brincos, batons e colares vermelhos. Homens com barbas e jaquetas decoradas com uma infinidade de broches. Um deles bem orgulhoso falou de um da União Soviética, eu conhecia a União Soviética, era uma potência olímpica.
Eis que formada essa paisagem surge ovacionado pela multidão o tal cara. Suado, com uma barba enorme e cuidadosamente mal feita, uma voz rouca pronunciando as palavras de forma diferente de como eu aprendi na escola e dizendo coisas que a escola nunca havia me ensinado. Era ele, Lula, o maior lider de massa do Brasil em seu primeiro contato comigo. Não lembro direito o que ele disse, só sei que ali ele recrutou pra luta mais um soldado. O que consolidou minha mudança de "voto" naquela noite foi a atitude daquele cara, foi a paixão e a fé daquela gente.
E o que pra mim foi a apoteose, foi no caminho de volta, quando de bandeira em punho e estrela no peito, comecei a cantar "Olê, olê, olê, olá... Lula, Lula", alguém do lado acompanhou o coro, depois mais três, depois todo mundo que caminhava. Senti ali que também podia influenciar e me senti dentro da onda vermelha.
Esse foi o dia que conheci Lula, um dia que mudou a minha vida.